terça-feira, 24 de setembro de 2013

A regeneração da figura do pai e a violência na sociedade


Frei Leonardo Boff

13/09/2013

É notória a crise da figura do pai na sociedade contemporânea. Por função parental, ele é o principal criador do limite para os filhos e filhas. Seu eclipse provocou um crescimento de violência entre os jovens nas escolas e na sociedade, que é exatamente a não consideração dos limites.

O enfraquecimento da figura do pai, desestabilizou a família. Os divórcios aumentaram de tal forma que surgiu uma verdadeira sociedade de famílias de divorciados. Não ocorreu apenas o eclipse do pai mas também a morte social do pai.

A ausência do pai é, por todos os títulos,  inaceitável. Ela desestrutura os filhos/filhas, tira o rumo da vida, debilita a vontade de assumir um projeto e ganhar autonomamente a própria vida.

Faz-se urgente um re-engendramento, sobre outras bases,  da figura do pai. Para isso antes de mais nada é de fundamental importância, fazer a distinção entre  os modelos de pai e o princípio antropológico do pai. Esta  distinção, descurada em tantos debates, até científicos, nos ajuda a evitar mal-entendidos e a resgatar o valor inalienável e permanente da figura do pai.

A tradição psicanalítica deixou claro que o pai  é responsável pela primeira e necessária ruptura da intimidade mãe-filho/filha e a introdução do filho/filha num outro continente, o transpessoal, dos irmãos/irmãs, dos avós, dos parentes e de outros da sociedade.

Na ordem  transpessoal e social, vige a ordem, a disciplina, o direito, o dever, a autoridade e os limites que devem valer entre um grupo e outro. Aqui as pessoas trabalham, se conflituam e realizam projetos de vida Em razão disso, os filhos/filhas devem mostrar segurança, ter coragem e disposição de fazer sacrifícios, seja para superar dificuldades, seja para alcançar algum objetivo.

Ora, o pai é o arquétipo e a personificação simbólica destas atitudes. É a ponte para o mundo transpessoal e social. A criança ou o jovem ao entrar nesse novo mundo, devem poder orientar-se por alguém. Se lhes faltar essa referência, se sentem inseguros, perdidos e sem capacidade de iniciativa.

É neste momento que se instaura um processo de fundamental importância para a jovem psiqué com consequências para toda vida: o reconhecimento da autoridade e a aceitação do limite que se adquire através da figura do pai.

A criança vem da experiência da mãe, do aconchego, da satisfação dos seus desejos, do calor da intimidade onde tudo é seguro, numa espécie de paraíso original. Agora, tem que aprender algo de novo: que este novo mundo não prolonga simplesmente a mãe; nele, há conflitos e limites. É o pai que introduz a criança no reconhecimento desta dimensão. Com sua vida e exemplo, o pai surge como portador de autoridade, capaz de impor limites e de estabelecer deveres.

É singularidade do pai ensinar ao filho/filha o significado destes limites e o valor da autoridade, sem os quais eles não ingressam na sociedade sem  traumas. Nesta fase, o filho/filha se destacam da mãe, até não querendo mais lhe obedecer e se aproximam do pai: pede para ser amado por ele  e esperam dele orientações para a vida. É tarefa do pai explicar ajudar a superar a tensão com a mãe  e recuperar a harmonia com ela.

Operar esta verdadeira pedagogia é  desconfortável. Mas se o pai concreto não a assumir está prejudicando pesadamente seu filho/filha, talvez de forma permanente.

O que ocorre quando o pai está ausente na família ou há uma família apenas materna? Os filhos parecem mutilados, pois se mostram inseguros e se sentem incapazes de definir um projeto de vida. Têm enorme dificuldade de aceitar o princípio de autoridade e a existência de limites.

Uma coisa é este princípio antropológico do pai, uma estrutura permanente, fundamental no processo de individuação de cada pessoa. Esta função personalizadora não está condenada a desaparecer. Ela continua e continuará a ser internalizada pelos filhos e filhas, pela vida afora, como uma matriz na formação sadia da personalidade. Eles a reclamam.

Outra coisa são os modelos histórico-sociais que dão corpo ao princípio antropológico do pai. Eles são sempre cambiantes, diversos nos tempos históricos e nas diferentes culturas. Eles passam. 

Uma coisa, por exemplo,  é a forma do pai patriarcal do mundo rural com fortes traços machistas. Outra coisa ainda é o pai da cultura urbana e burguesa que se comporta mais como amigo que como pai e aí se dispensa de impor limites.

Todo este processo não é linear. É tenso e objetivamente difícil mas imprescindível. O pai e a mãe devem se coordenar, cada um na sua missão singular, para agirem corretamente. Devem saber que pode haver avanços e retrocessos; estes pertencem à condição humana concreta e são normais.

Importa também reconhecer que, por todas as partes, surgem figuras concretas de pais que com sucesso enfrentam as crises, vivem com dignidade, trabalham, cumprem seus deveres, mostram responsabilidade e determinação e desta forma cumprem a função arquetípica e simbólica para com os filhos/filhas. É uma função indispensável para que eles amadureçam e ingressem na vida sem traumas até que se façam eles mesmos pais e mães de si mesmos. É a maturidade.
 do blog leonardoboff.wordpress.com

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Uso de álcool por crianças e adolescentes e a proteção de Direitos Humanos



FORUM PERMANENTE DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
EMERJ - 2013
Estatuto da Criança e Adolescente
Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
EUA – 21 anos
6 etapas
abstinência
uso exprimental/recreacional (em geral limitado ao álcool)
abuso inicial
abuso 
dependência
recuperação
Experimentar pode ser considerada uma conduta normal neste período de desenvolvimento
a maioria dos adolescentes que experimentam não se tornará um usuário regular da mesma
Doença de desenvolvimento lento
Estrutura de vida
a classe social média-baixa aumenta em 3,5 vezes a probabilidade destes indivíduos se tornarem dependentes de drogas
a defasagem escolar, de no mínimo um ano, aumenta em 4,4 vezes a chance destes desenvolverem uma dependência grave
No que compete à situação familiar, a presença somente da mãe no domicílio do adolescente estava associada a um aumento de 22 vezes na chance deste ser dependente de drogas, quando comparado com adolescentes que viviam com ambos os pais
todo o corolário de trauma familiar, s paração, brigas e agressões estavam francamente associados ao grupo de adolescentes com maior intensidade de dependência. O papel dos pais e do ambiente familiar é marcante no desenvolvimento do adolescente e, conseqüentemente, na sua relação com álcool e outras drogas.
(pesquisa de Micheli e Formigoni com 213 adolescentes)
Fatores predisponentes ao uso de drogas por adolescentes
Falta de suporte parental
uso de drogas pelos próprios pais
atitudes permissivas dos pais perante o uso de drogas
incapacidade de controle dos filhos pelos pais
indisciplina e uso de drogas pelos irmãos
Impacto do uso do álcool
série de prejuízos no desenvolvimento da própria adolescência e em seus resultados posteriores
prejuízos são diferentes aos evidenciados em um adulto em razão de especificidades existenciais desta etapa da vida ou por questões neuroquímicas neste momento do amadurecimento cerebral
Riscos são mais frequentes em razão da onipotência do adolescente, desafiando regras
Acredita estar protegido de acidentes
Se sente autônomo na transgressão
está mais associado à morte do que todas as substâncias psicoativas ilícitas em conjunto
Sabe-se, por exemplo, que os acidentes automobilísticos são a principal causa de morte entre jovens dos 16 aos 20 anos
18% dos adolescentes norte-americanos com idade entre 16 e 20 anos dirijam alcoolizados
Dirigir alcoolizado ou pegar carona com motorista alcoolizado
aumenta a chance de violência sexual, tanto para o agressor quando para a vítima
envolve-se mais em atividades sexuais sem proteção, com maior exposição às doenças sexualmente transmissíveis, como ao vírus HIV, e maior exposição à gravidez
Interferência no juízo crítico
Não uso de preservativos
Pagar por sexo
Prostituição
Prejuízo acadêmico
Déficit de memória
50% dos jovens que bebem regularmente apontam como a principal conseqüência negativa o comportamento de uma forma imprópria
Ausentes outros “freios sociaisdos adultos (perda de emprego)
Repercussão na neuroquímica cerebral, em pior ajustamento social e no retardo do desenvolvimento de suas habilidades, já que um adolescente ainda está se estruturando em termos biológicos, sociais, pessoais e emocionais.
maior risco de dependência química na idade adulta,
o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento.
prejudica habilidades mediadas por este circuito –o aprendizado de regras e tarefas focalizadas
O hipocampo, associado à memória e ao aprendizado
os efeitos ocorrem em áreas cerebrais ainda em desenvolvimento e associadas a habilidades cognitivo-comportamentais que deveriam iniciar ou se firmar na adolescência
associar o lazer ao consumo de álcool, outomar iniciativas em experiências afetivas e sexuais se beberem
Estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), em comparação com os países da América Latina
  Brasil em terceiro lugar no consumo de álcool entre os adolescentes
Pesquisa com estudantes do ensino médio e incluiu 347.771 meninos e meninas, de 14 a 17 anos, do Brasil, da Argentina, da Bolívia, do Chile, do Equador, do Peru, do Uruguai, da Colômbia e do Paraguai.
Entre os brasileiros, 48% admitiu consumir álcool.
O Que pode ser feito?
Conscientização do problema
Trazer os adolescentes para expressarem sua opinião sobre a questão
Trabalhos frequentes sobre o tema dentro das escolas
Campanhas na televisão e locais públicos
Aplicação de verbas para proteção dos adolescentes e não dos adultos
Fiscalização efetiva e aplicação de multa aos estabelecimentos que vendem bebida sem pedir identidade
Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos
Flavio Pechansky (a), Claudia Maciel Szobota e Sandra Scivoletto (b)
(a) Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da UFRGS
(b)GREA Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto e Departamento de Psiquiatria da FMUSP, Hospital das Clínicas de São Paulo
Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):14-17

Environmental Policies to Reduce College Drinking: Options and Research Findings - TRACI L. TOOMEY, PH.D., AND ALEXANDER C. WAGENAAR, PH.D.- Division of Epidemiology, School of Public Health, University of Minnesota
Álcool e Menoridade - http://direitosdasfamilias.blogspot.com.br/2012/07/alcool-e-menoridade.html