Ari Francisco Barbosa Filho - advogado e professor universitário
Educação é das muitas palavras comuns ao vocabulário
político, como povo e liberdade, e como tal, de uso transbordante e total
ausência de sentido. Quando se diz fazer a educação, remete-se à responsabilidade de alguém fazer – alguma
coisa – para alguém. Significa dizer que há responsabilidades a serem cobradas
do alguém que faz, requerida por alguém
que recebe. Essa atribuição-dever sempre coube, historicamente, ao Estado,
entidade abstrata, abrangente, capaz de suportar no seu colo uma das mais vis imperfeições humanas, a corrupção.
Mas até chegar o papel do Estado, o fazer da educação passa inevitavelmente
pela família. Certa vez, uma inexperiente mãe, com seu filho no colo, de um ano de
idade, procurou um célebre educador e perguntou em que idade deveria começar a
educar seu filho. O velho professor, então, perguntou a idade da criança. Um
ano, respondeu a mãe. Então, retrucou o educador, a senhora já perdeu um ano.
Nos estado brasileiro, a criança tem a
proteção do Estado desde a concepção. Esse conceito jurídico de proteção
do nascituro da espécie humana, reserva à mãe a primazia do primeiro sentimento, da primeira palavra
ao recém-nascido, ou até antes de ele mesmo vir ao mundo. Desde o ventre
materno, no período gestacional, as tristezas e alegrias da mãe, pelas vias
psico-orgânicas repassam integralmente
àquele pré-nascituro. Talvez esteja aí o primeiro sinal do fazer educação. A
vivência familiar, hoje minimizada pelos costumes sociais que tiraram da sala,
da cozinha, o diálogo familiar, introduzindo o rádio, a tv e modernamente a
internet, perdeu o fio da educação. O
convívio, as histórias, as manias, os exemplos que ficam no inconsciente e marcam
para toda a vida deixaram de ter sua origem na casa materna
para receberem do mundo lá fora todas as brisas, ventos, ventanias, furacões. Já não se tem
domínio sobre como e o quê educar. Perdeu-se o inconsciente coletivo da
família. Tem-se aí a primeira questão
emblemática: os impositivos da vida moderna apropriaram-se do fazer educação,
isolando a família e seus condicionantes, e com ele todos os derivativos de direitos e responsabilidades. Todos temos
direitos, é condição humana da existência pela superioridade da espécie e pelo
domínio da natureza circundante que já
se consolidaram através do medo, depois pela religião, chegou-se à primazia da ciência
e hoje transformou-se em poder, sem que a equação direito= responsabilidade desse
grau zero. O resultado é sempre negativo, para ambos os lados, não se tem direitos muito menos
responsabilidades. Já se disse que ninguém esquece as histórias de berço.
Quando se tinha berço afirmam outros. No meio dessa discussão o caminho da família ficou congestionado e o que se tem por
herança hoje são apenas os bens
materiais. A herança da educação que antes formava os preconceitos, bons ou
maus, esvaiu-se com o tempo. Procura-se, nesse labirinto de múltiplas saídas,
fazer a educação dos valores
ético-morais que se veem quando se olham
os retratos de nossos avós perdidos numa gaveta qualquer da casa. Tudo aí começava. Depois veio o Estado ...
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