Márcio de Morais, especial para o Congresso em Foco
A percepção que o caminhoneiro tem sobre campanhas contra exploração de criança é que elas não funcionam, seja por falta de maior fiscalização policial nas rodovias e em postos de combustíveis ou de punição rigorosa. A lisura e a ação da polícia são também questionadas pelos consultados. Uns põem em dúvida a honradez da categoria e a eficiência no combate ao crime de prostituição infantil.
Para eles, as diferentes instâncias precisam ser interativas e promover ações combinadas. A maioria dos entrevistados (90%) afirma ter visto campanhas sobre enfrentamento sexual, mas 12,3% não lembra de detalhes do conteúdo ou algo específico; outros 43,8% sabem apenas o assunto, sem ter-se fixado no conteúdo. Algumas campanhas são lembradas pelos entrevistados, especialmente a que tratou da conotação criminal e ilegal da prática sexual com crianças (pedofilia) e outra que promoveu a divulgação do Disque-Denúncia 100, federal, gratuito, com garantia de anonimato do denunciante.
Em relação à autoria de campanhas voltadas para as crianças e combate aos abusos contra a infância, as instituições mais lembradas são Governo (10,2%), Organizações Globo (6,3%), SestSenat (4,6%), Renato Aragão/artistas do Criança Esperança (4,26%) e Siga Bem Caminhoneiro (3,4%). Quase 59% dos entrevistados declararam não se lembrar dos autores de campanhas sobre o tema.
“(As campanhas) deveriam ser mais frequentes, constantes, e, se veiculadas na televisão ou rádio, transmitidas em todos os horários. Quando direcionadas aos caminhoneiros, devem estar expressas nos locais onde a categoria frequenta. Além disso, a sua abordagem deve ser mais direta, necessita chocar, exibir a realidade tal qual se apresenta”, sugere o relatório final da pesquisa.
Os consultados defendem penas severas para o abuso; bem como sua ampla divulgação, para disseminar a idéia de que o crime está sujeito ao rigor da lei, seja o autor comerciante, autoridade pública, político, padre, professor ou caminhoneiro. Dois caminhoneiros responderam com proposta de pena de morte para os criminosos sexuais.
“Virar mulher na cadeia”
A baixa sensibilização registrada pelas campanhas de enfrentamento também é citada no levantamento. A visão dos caminhoneiros é que as pessoas não prestam atenção nas campanhas sobre o tema. “Lêem cartazes, placas, vêem as propagandas veiculadas na televisão, mas o seu conteúdo não as sensibiliza”, registra o relatório. E por quê? “Porque vi uma vez um cara com um adesivo (contra exploração sexual) no caminhão e pegando uma criança”, justifica-se um indignado entrevistado.
Um fator atemoriza os depoentes, mas, acreditam eles, ajuda a mudar a postura tolerante com a prática sexual com meninas: é o receio de ‘virar mulher na cadeia’ – punição que é aplicada nos presídios a estupradores e abusadores sexuais pelos detentos. Muitos pesquisados revelaram insatisfação com a baixa inserção do governo no processo. Se fosse maior, o apoio e participação governamental ajudariam a combater a realidade de exploração e abuso que sofrem as crianças nas ruas, acreditam eles.
Melhoria das escolas, auxílio (multidisciplinar) às famílias de crianças e adolescentes: dois itens que a ação do Estado – por meio de governos de níveis federal, estadual e municipal – precisaria ser mais efetiva, na opinião dos caminhoneiros. Sob esse ângulo, a educação e o enlace familiar, o contato com as pessoas de casa, são valorizados pelos caminhoneiros. “É para ela (a família) que os olhos do governo deveriam estar direcionados: define valores, escolhas, fornece estrutura às crianças e adolescentes”, adverte o Relatório Foco/CNT/SestSenat.
do site do UOL
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