quarta-feira, 19 de junho de 2013

A Marcha da Decência!


             Como disse Paulo Freire, é a Marcha da Decência!
            Estamos vivenciando momento histórico no nosso Brasil. País gigante que se mobiliza a partir dos jovens e contagiando a todos que se interessam pelas melhoras. A emoção do movimento, que aumenta a cada dia e não é coisa passageira, começou com a gota d’água do aumento do preço das passagens. Não são somente os 20 centavos, mas o pote cheio de mágoas e direitos desrespeitados.
            A mobilização gerada pelo julgamento do mensalão em que o povo se sentiu de alguma forma prestigiado, a despeito de qualquer discussão técnico-jurídica sobre o tema, demonstrou que a sociedade queria  correspondência aos seus anseios.
          Dizem não haver liderança ou lista de reivindicações por parte dos que marcham. Essa conclusão simplista deixa de acompanhar a recente história do país e as reclamações não ouvidas ao longo dos últimos tempos pelos brasileiros.  
       Os gritos contra a representação na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, que agora mesmo aprovou a proposta para suspender resolução do Conselho Federal de Psicologia que veda a colaboração dos profissionais para o que denominam “cura gay”. O projeto de lei continua avançando apesar dos protestos e da notória inconstitucionalidade por ferir os direitos fundamentais previstos na Constituição.
            Os gritos contra o Estatuto do Nascituro que prevê auxílio mensal à vítima do crime, a gestante estuprada, se deixar de interromper a gravidez, como a lei lhe permite, em notória violação à Constituição e aos Direitos Humanos, para reconhecer a paternidade do criminoso, em afronta a toda evolução histórica dos direitos feministas e a proteção das crianças e das famílias, concedendo supostamente direitos ao nascituro, e não sua proteção como prevê a nossa lei, pois, na verdade, busca impor crenças privadas a toda sociedade plural que não as compartilha em prejuízo real à saúde da mulher, num paradoxo de proteção quando se sabe que inúmeras mulheres morrem vitimadas pelo aborto clandestino ou sofrem durante muitos meses na peregrinação para realizar a interrupção da gestação quando assegurada por lei, e muitas vezes obstruída na prática.
            Os gritos contra a PEC 33 que determina que a decisão do STF sobre inconstitucionalidade de uma emenda constitucional seja submetida à avaliação do Congresso Nacional que ao apresentar oposição deverá submeter a questão à consulta popular, em clara tentativa de reduzir o equilíbrio entre os três Poderes.
            Os gritos contra a PEC 37 que retira do Ministério Público o poder de investigação deixando exclusivamente para a polícia, o que prejudica a apuração de crimes, especialmente desvio de verbas, corrupção e abusos praticados por agentes do Estado e violações de direitos humanos.
            Os gritos da antiga reivindicação de boas escolas, hospitais com estrutura suficiente para atender à população, pagamento digno aos professores e médicos para que o povo tenha garantido seu direito à educação e saúde. Cansados, todos, de ouvir notícias de morte por falta de atendimento médico, das emergências lotadas, das cirurgias marcadas para datas distantes, dos medicamentos não recebidos, da hospitalização no chão dos corredores de lugares imundos, da falta de equipamento, da falta de material de sutura...
            Os gritos das inúmeras crianças que ainda não sabem ler ou que leem, mas não entendem o que leram, que não sabem somar ou multiplicar, que não tem comida em casa ou na escola, que seu professor ganha tão pouco que não consegue continuar a estudar, que frequenta uma escola quebrada e suja....
            Os gritos contra a lentidão da Justiça que deixa de dar soluções ágeis com processos que duram anos e até décadas para ter uma solução definitiva e decisões que muitas vezes não são cumpridas nem para prender quem deve ser preso ou para soltar quem está preso injustamente ou para fazer uso de um bem ou receber o direito que lhe é devido.
            Os gritos contra os gastos estrondosos com a construção da estrutura da Copa do Mundo e a ausência de investimentos estrondosos nas escolas,  hospitais e transporte público.
            Os gritos dos jovens estudantes, muitos presos em atitudes assustadoramente arbitrárias, que responderão a investigação criminal podendo ser processados criminalmente, acusados de formação de quadrilha, por serem perigosos, pois estavam reunidos com outros jovens reivindicando seus direitos civis e tem suas fotos divulgadas com camisetas de presos, apesar de serem jovens universitários com consciência política, lutando pelo que acreditam.
            Os gritos dos jornalistas impedidos de atuar na cobertura dos fatos; os fotógrafos impedidos de registrar os momentos históricos importantes afastados com tiros de bala de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta, presos por portarem vinagre para se protegerem contra as armas não letais, como se o uso destas justificasse a ausência de tentativa de diálogo.
            A pauta é imensa, os gritos são muitos, ainda há dúvidas quanto ao que se reivindica?
       Estes jovens estudantes conseguiram, com o uso da internet, mobilizar fisicamente parte da sociedade e motivar imensamente outra parte, são jovens que tiveram a oportunidade de estudar e formar senso crítico para ver o que está acontecendo e se posicionar contrariamente, conscientizando outros cidadãos. E mais. Se dispuseram a ir para as ruas gritar ainda mais, sem que qualquer partido, neste momento, os represente porque até agora não deram ouvidos. Gritar até que os governantes, os políticos, se aproximem para ouvir e para responder, falando olhando nos olhos, de perto, como falaram no momento das campanhas eleitorais. Cumprindo com o dever de representar a população, no todo, eleitores ou não.
           

        

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